O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula com outras
correntes do PT a substituição das críticas mais duras ao ajuste fiscal e
ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pela defesa de uma “agenda de
desenvolvimento” que “crie esperança” no País. O movimento tem como alvo
o 5.º Congresso do PT, que ocorrerá de quinta-feira a sábado, em
Salvador, e, antes mesmo da abertura, provoca tensão no Palácio do
Planalto.
Apesar de adotar um tom de desaprovação às medidas
tomadas pela equipe econômica, Lula não quer que o PT saia do encontro
de Salvador com o carimbo de partido de oposição à presidente Dilma
Rousseff por avaliar que essa estratégia corresponde a um suicídio
político.
Levy tem sofrido críticas por causa do ajuste fiscal André Dusek/Estadão
Em entrevista ao Estado, ontem, Dilma considerou
injustas as críticas a Levy e disse que ele não pode ser transformado
em “judas” e ser malhado pelo PT. A ideia do grupo de Lula é “virar o
disco” e mostrar que, agora, os petistas estão dispostos a ajudar Dilma a
retomar o crescimento, reduzir a desigualdade e tirar do papel o slogan
do governo – “Pátria Educadora”.
Na lista das “compensações” ao
ajuste que a chapa da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil
(CNB), de Lula, tentará emplacar na resolução do 5.º Congresso estão
propostas de crédito para fortalecer a indústria e manter empregos, de
estímulo às exportações e de regulamentação do imposto sobre grandes
fortunas.
A intenção é deixar claro que o pacote fiscal também
atinge o “andar de cima” e não se concentra em restringir direitos dos
trabalhadores, como seguro-desemprego e abono salarial.
O
receituário do corte de gastos e a proibição imposta pelo PT a seus
diretórios – impedidos de receber doações empresarias de campanha – são
os capítulos que prometem causar mais polêmica no 5.º Congresso.
A
tendência Mensagem ao Partido – integrada pelo ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, e pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso
Genro – mede forças com a CNB para influenciar as discussões.
Antes
de viajar para a Itália, na semana passada, Lula pediu a dirigentes e
parlamentares do PT que desbastassem os ataques ao governo e não dessem
“um tiro no pé”. No sábado, porém, ao abrir a 39.ª Conferência da FAO, a
agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, em Roma, ele
disse que, “se cada presidente ficar esperando que o ministro da Fazenda
diga que está sobrando dinheiro, nunca vai fazer programa de
transferência de renda”.
Nova rota. A cúpula do
PT convocou o 5.º Congresso para corrigir rumos em meio à maior crise
dos 35 anos do partido, no rastro dos escândalos de corrupção. Desde
abril, no entanto, quando o então tesoureiro João Vaccari Neto foi
preso, acusado de desviar recursos da Petrobrás, o desgaste só aumentou e
o nome de Lula chegou a ser associado a denúncias. Dirigentes do PT vão
manifestar solidariedade ao ex-presidente no encontro de Salvador, que
será aberto por ele e encerrado por Dilma.
Em conversas
reservadas, Lula tem dito que um eventual fracasso de Dilma será
debitado na sua conta e, diante desse quadro, somente será candidato à
sucessão de 2018 se a economia estiver bem. No seu diagnóstico, ou o PT
renova o discurso e ajuda Dilma a sair da turbulência ou o cenário de
hoje será “fichinha” perto da rejeição que o partido pode amargar nas
eleições municipais de 2016 e na disputa presidencial de 2018.
“Agora,
é tempo de parar de falar em ajuste e falar de investimento, emprego e
distribuição de renda”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. “A
política fiscal é de responsabilidade do governo e não é adequado
criticar o ministro Levy. Acredito que o Congresso do PT será
responsável e solidário com a presidente Dilma e sua equipe”, afirmou o
ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini.
POLÊMICAS PETISTAS________________________________
Ajuste fiscal - Alas
radicais do partido prometem entoar gritos de “Fora Levy” no congresso
petista. O governo e o ex-presidente Lula pedem cautela e a cúpula da
corrente majoritária tentará aprovar uma resolução política mais amena,
focada em medidas “pós-ajuste”.
Taxação de fortunas - Para
“compensar” o ajuste, o PT quer que o governo taxe as grandes fortunas
do País, fazendo com que os mais ricos também paguem a conta. Levy não
gosta da ideia e disse à presidente preferir um imposto sobre heranças.
Doações empresariais - Depois
da prisão de João Vaccari Neto, o PT proibiu os diretórios de receberem
financiamento de empresas. A medida causou protestos no partido e agora
grupos se acusam mutuamente de quererem promover um recuo.
Fim do PED e nova direção - O
Processo de Eleições Diretas (PED) é alvo de críticas em geral, por
reproduzir vícios do mundo político, como abuso do poder econômico e
compra de votos. Setores também querem abreviar o mandato da atual
direção.
Constituinte exclusiva - Com a reforma
política desfigurada pelo Congresso, o PT voltará à carga para encaixar
na resolução a defesa de uma Assembleia Constituinte exclusiva, com o
objetivo de votar o tema.
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